Hoje é o Dia da Língua Portuguesa e os primeiros nomes que nos vêm à cabeça são os de nossos queridos autores brasileiros, sobre os quais já falamos tantas vezes aqui que fica até complicado selecionar apenas alguns para a celebração (mas trabalharemos nessa árdua tarefa lá no face). Também já falamos sobre o angolano Ondjaki e o moçambicano Mia Couto (aqui), e, claro, sobre a nossa musa-mor, a portuguesa Florbela Espanca (aqui). Em breve faremos um post sobre o nosso novo autor português preferido, Valter Hugo Mãe, mas hoje é dia de José Saramago, que logo de cara avisa que não é lá tão expert na arte de contar histórias para crianças: “Se eu tivesse aquelas qualidades todas, poderia contar, com pormenores, uma linda história que um dia inventei”... 

E a singela história acompanha os passos de um garotinho que, solitário, sai escondido pelo fundo do quintal a desbravar os arredores de sua aldeia. Ele segue o caminho das árvores, costeia o rio e vai além...até que chega num ponto o qual nunca ultrapassou antes. A partir dali era o “planeta Marte”, para ele, uma zona totalmente inexplorada, cheia de mistérios e possíveis perigos. Ele fica na dúvida: “Vou ou não vou?”. E vai. 

O rio continua serpenteando, e o menino, já cansado da paisagem monótona, corta caminho pelos campos, admirando os olivais e a sebes cobertas de campainhas brancas. Não há rastro de gente ou bicho, só o silêncio e o aroma da relva. O menino, feliz da vida, vê uma colina não muito longe, sobe a encosta e de repente se depara com uma flor, uma flor com resquícios de beleza, ainda que murcha e despetalada. De uma estranha maneira, sente-se responsável por aquela vida tão frágil, ele precisa salvá-la! 

Mas onde encontrar água? Só lá no rio, tão longe. Mas o nosso menino tem um coração de leão, atravessa todo aquele mundaréu e volta com as mãozinhas em concha, pois é a única maneira de levar a vida de volta à flor. São apenas três gotinhas, ela precisa de muito mais...vinte vezes o menino vai e volta e a flor bebe, se transforma, enche o ar de perfume. E cresce, e cresce e dá uma sombra preguiçosa, tão alta quanto uma árvore. O menino não resiste e adormece aos seus pés, sem nem imaginar o quanto deixara os pais preocupados. A aldeia entra em rebuliço atrás do menino, que segue sonhando, e logo sua família percebe que ele está sendo muito bem cuidado e protegido, como um passarinho no ninho, por uma flor magnífica, a maior flor do mundo! Lindo!!! 

“Este era o conto que eu queria contar. Tenho muita pena de não saber escrever histórias para crianças. Mas ao menos ficaram sabendo como a história seria, e poderão contá-la doutra maneira, com palavras mais simples do que as minhas, e talvez mais tarde venham a saber escrever histórias para crianças...quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita”?