Depois de uma pequena ausência por conta da preparação de gostosuras para a Feira de Domingo (leia mais aqui), volto para fechar a nossa trilogia da América do Sul.  E hoje quem aparece por aqui é ninguém menos do que o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973). O Livro das perguntas não é exatamente um livro para crianças – mas elas certamente terão muito mais criatividade para saboreá-lo em todas as suas possibilidades. 

Neruda, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1971 e mais conhecido por seus poemas de amor, passou a vida dedicando poesia à cada pessoa, animal, planta ou coisa que povoa o universo. As suas odes são particularmente famosas, e muitas são inesquecíveis e adoráveis como a Ode ao gato, Ode a chuva, Ode ao pão (amo!) e Ode a uma estrela (já falamos sobre o livro aqui). Eu encaro o seu Livro de perguntas como uma grande ode à imaginação infantil e um convite à exploração de toda essa beleza que está à nossa volta. Aqui sentimentos ganham cores, aromas, sabores, ações. Os animais aparecem com uma aura fantástica, assim como as flores, as estações do ano, os fenômenos da natureza. Tudo é possível num mundo quando não nos envergonhamos de questionar.

O Livro das perguntas foi publicado pela primeira vez em 1974 e de lá até hoje muitas edições foram lançadas, inclusive uma na qual crianças respondiam às perguntas de Neruda. Infelizmente não tive o privilégio de ter um desses volumes em mãos, mas eu aqui com a minha mente fervilhante consigo pensar num milhão de respostas diferentes para perguntas inspiradoras tais como Por que as árvores escondem o esplendor de suas raízes? Ou Por que o tubarão não ataca as impávidas sereias? Como se chama o coquetel que mistura vodka e relâmpagos? Quem gritou de alegria quando nasceu a cor azul? A quem engana a magnólia com sua fragrância de limão? 

É necessário comentar também sobre a MARAVILHOSA arte desta recente edição de 2006-2007, que ficou a cargo do artista argentino Isidro Ferrer. Ele criou um universo no qual reina uma infinidade de caminhos a serem seguidos. Enigmas, segredos, palavras, números, tudo isso só fará sentido se você soltar a sua imaginação. Ele utiliza várias colagens/montagens que representam um labirinto, uma chave, livros misteriosos – e por isso mesmo instigantes, um cachorrinho curioso, uma escada sem fim, uma luneta que enxerga além, um ovo imitando uma mapa mundi e executa cada uma dessas ilustrações com materiais tão variados como um pedaço de pão (a lua!) e uma dobradiça de porta (que se transforma numa simpática borboleta). Até Neruda aparece como personagem, com sua boina e cachimbo inconfundíveis. Ele viaja por terra, mar, ar e a proposta é a de que você o acompanhe e desvende cada uma dessas charadas. Ou crie outras novas. Espetacular, esplêndido, estupendo!