Finalmente chegou o mês de dezembro com sua aura de alegria e sonhos possíveis. Eu, que adoro todo tipo de celebração, não poderia amar mais a época de Natal. Por isso, trago hoje um livro precioso, que o acompanhará até o dia 24, véspera de Natal, data esta que é sempre muito comemorada na minha família. Desde pequena, passava os dias na cozinha da minha avó, no meio daquela agitação maravilhosa, entre o preparo dos insuperáveis cannoli e a confecção, de três dias no mínimo, da iguaria chamada cuccidata - a saber, um biscoito perfumado de figo e melado de melão - puro requinte, coisa linda de viver. Hoje em dia, depois de receber o cetro da confeiteira-mor Dona Rosa, sou eu quem preparo as doçuras, que têm até uma fase de votação pra lá de exaltada, algo comum numa família tipicamente italiana. As carnes ficam a cargo do talentoso cozinheiro Giuseppe, meu papai, que faz o melhor lombo recheado do universo. Enfim, acho que já deu para entender o quanto a data é importante para mim, por isso quero compartilhar desde já esse livro/presente. 

Mistério de Natal, escrito em 1998 pelo meu muso Jostein Gaarder (leia sobre o livro da minha vida aqui), pode e deve ser lido em família, de preferência saboreado aos poucos, para deixar a imaginação da criançada dando rodopios e para que compreendam o verdadeiro espírito da data. Eu desenvolvi um método de leitura incrível, um capítulo por dia (são exatos vinte e quatro), de preferência acompanhado de um calendário de Natal. Assim vamos desvendando aos poucos esse mistério, ao lado do garoto Joaquim, com o abrir das portinhas do calendário. Revela-se então uma gostosura, uma miniatura, um brinquedo ou o que a sua imaginação mandar. Não sei se é tão fácil assim encontrar calendários de Natal (eu sempre compro os meus numa livraria alemã de Porto Alegre), mas é algo simples de fazer, basta usar material reciclado (como uma caixa de papelão, por exemplo), e construir nichos para abrigar as surpresas. Será uma tarefa recompensadora, garanto. 

Vamos então à história. Joaquim e seu pai deixaram para comprar o calendário de Natal na última hora. Não o encontram em lugar nenhum, e o menino começa a ficar preocupado porque o dia seguinte já é primeiro de dezembro. Mas eis que ele encontra uma pequena livraria, um tanto velha, com prateleiras abarrotadas de livros até o teto (a minha cara!). Sobre o balcão, oba, os tais calendários de Natal. Entretanto, como é habitual na literatura de Gaarder, seus personagens não se contentam com o caminho mais fácil, são seres únicos, curingas num baralho, e Joaquim cisma de levar um calendário empoeirado que acha numa parede. O simpático dono da livraria diz que o calendário fora deixado ali por João, o excêntrico vendedor de flores do mercado. E dá o calendário de presente para o garoto, que pula de alegria e abraça sua relíquia. E é assim que começa a aventura de Joaquim e seu calendário mágico. 

Mágico, sim, porque todas as histórias de Gaarder são feitas para encantar. No dia primeiro de dezembro, Joaquim abre a portinha número um do calendário e se depara com a figura de um cordeirinho e, mais importante ainda, com um papelzinho que cai através da porta. Na história dentro da história, uma menina chamada Elisabet vê um cordeirinho de pelúcia ganhar vida e fugir da loja de brinquedos. Ela corre atrás dele, loja afora, porque deseja ardentemente acariciar sua lã macia. E continua correndo, porque é determinada. Como por magia, tudo ao seu redor se transforma. A neve espessa desaparece (será que ela correra tanto e não estava mais na Noruega?), a noite vira dia e a garotinha se vê então numa floresta, entre lindas anêmonas de pétalas azuis. O tilintar do sino do cordeirinho chama a sua atenção mais uma vez, e Elisabet tenta alcançá-lo, mas tropeça na raiz de um pinheiro e estatela-se no chão. Neste momento surge diante dela o anjo Efiriel, que conta o motivo da pressa do cordeirinho: ele está correndo para Belém, a fim de participar do nascimento de Jesus. O anjo também está indo para lá e a menina decide acompanha-los nesta longa viagem através da história. Outros personagens vão se juntando à comitiva, ao mesmo tempo em que Joaquim decide guardar segredo sobre o calendário e investigar o misterioso vendedor de flores. Independente de crença ou religião, é um livro lindo que merece ser amado e lido nesta ocasião tão especial. Jostein Gaarder é sempre brilhante, amo-o imensamente. Feliz leitura para todos vocês ♥