Livro do dia: Tomie: Cerejeiras na noite

Livro do dia: Tomie: Cerejeiras na noite

Posted by Kátia

No Dia Nacional da Imigração Japonesa contamos a história da grande artista plástica Tomie Ohtake, que faleceu recentemente aos 101 anos e nasceu num reino encantado: a cidade de Kyoto. Com seus templos, palácios e jardins como que saídos de sonhos, Kyoto é também um lugar precioso para os artistas. Ali estão reunidas muitas coleções de livros feitos em rolos de papel e também telas e leques com pinturas magníficas. Foi ali que nasceu o teatro japonês, preservado impecavelmente em seus quatro estilos até hoje: o (drama lírico), o kyogen (comédia), o alegórico kabuki e o maravilhoso teatro de marionetes bunraku (leia mais sobre esse tema aqui). Terra dos samurais e gueixas, das flores e da arte do chá. Kyoto, como que perdida no tempo, linda, irretocável, eterna. 

Divagações à parte, Tomie nasceu e cresceu neste lugar abençoado e desde sempre manifestou a aptidão e o desejo de se dedicar às artes - como não? O problema é que as moças de seu tempo eram educadas para se casarem e se dedicarem totalmente à família, estava totalmente fora de questão para ela estudar e se tornar uma artista no Japão. A sua grande chance veio aos 23 anos, quando teve a oportunidade de vir para o Brasil, país em que seu irmão Masutaro estabelecera um negócio de importação e exportação. Tomie viveu assim a sua primeira aventura, ao embarcar no navio Argentina Maru e navegar através da África, admirando toda a sorte de pássaros, peixes, ilhas, praias cintilantes de areia branca e palmeiras. 

Tomie veio a princípio como turista, mas juntamente com ela estavam os imigrantes que tanto contribuíram – e ainda contribuem! – para o enriquecimento e o embelezamento da nossa terra. Anos mais tarde ela utilizaria todas essas sensações e experiências para dar vida à sua arte abstrata: “Pintava os sentimentos da vida, como se estivesse mostrando que a vida verdadeira não é material, mas espiritual”. Amante das formas, Tomie vai aprendendo aos poucos a amar também as cores fortes do Brasil. 

Ela tem o dom de captar memórias e imprime essa essência em suas telas. No ouro podemos vislumbrar um pôr do sol resgatado lá de sua infância, entre as montanhas de Kyoto; no azul vemos a imensidão do rio Arashiyama, que ela atravessava a nado de um lado para outro. Se fecharmos os olhos e contemplarmos com o coração talvez possamos encontrar um poema escrito em papel e preso num ramo de bambu, numa Festa das Estrelas há muito celebrada; as cerejeiras em flor e os frutos das macieiras protegidos do frio; o seu antigo caderno de rabiscos; o som de um piano; a profusão de cores de seus arranjos em ikebana; o grampo de cabelo da mãe; o aroma do chá tostado. E mais, infinitas sensações mais. 

Quem já conhece a obra de Tomie Ohtake sabe que ela não conseguiu colocar tanta emoção apenas em telas. Seu coração era gigante, colossal, então ela precisou construir esculturas, cada vez maiores, cada vez mais complexas. Ela colocou uma enorme estrela amarela dentro de uma lagoa. Fez o cenário da ópera (tão intensa e dramática quanto a alma japonesa) Madame Butterfly. E o que dizer do majestoso lustre de 1,4 tonelada e 2,7 metros de altura do Theatro Pedro II? Se você vive em São Paulo ou já visitou esta que era a cidade do coração de Tomie, é bem possível que tenha encontrado alguma de suas obras colorindo a cidade. Tem o Monumento à Imigração Japonesa, na Avenida 23 de Maio; as Quatro Estações, painéis de pastilha de vidro lá no Metrô Consolação; a incrível “labareda” do Auditório Ibirapuera, etc, etc. Então, façamos um brinde aos nossos queridos imigrantes japoneses, que trouxeram uma artista tão genuína quanto Tomie para o Brasil, essa flor de beleza eterna que desabrochou e ficou por aqui. Kampai! 

Tomie: Cerejeiras na noite
Autoras: texto de Ana Miranda sobre depoimentos de Tomie Ohtake
Ilustradora: Maria Eugênia
Editora: Companhia das Letrinhas
Temas: Arte; Cultura japonesa
Faixa etária: 07-11 
 
Leia também: Olha só que legal, hoje também é comemorado o Dia Internacional do Sushi. O livro do dia afirma que Tomie curou-se de uma pneumonia gravíssima, aos seis anos de idade, porque comeu sushi! Então pode ser que você queira se inteirar da arte da culinária japonesa e uma bonita introdução é First Book of Sushi (Knopf Books). Esse livro faz parte de uma divertida e deliciosa coleção chamada World Snacks, que contempla, entre outros o México, a China e a Itália. Aqui você faz um passeio visual pelas gostosuras do Japão e é bem provável que ao final do livro já tenha aprendido a comer com os hashis. 

Tomie, linda em seu quimono, ao lado da mãe Kimi
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