Hoje é Dia do Ceramista. E para celebrar a linda data, escrevo sobre um livro inspirador, no qual um jovem de espírito criativo luta pela aceitação do mestre, submetendo-se a árduas tarefas e a seu temperamento explosivo. O sonho secreto do garoto: fazer o seu próprio jarro de cerâmica celadon (tipo de esmalte bastante conceituado, que tem como principal elemento corante o óxido de ferro, responsável pelo matiz verde em vários tons de cinza e azul). 

O órfão Orelha-de-pau mora debaixo de uma ponte na aldeia de Ch’ulp’o, famosa terra dos ceramistas, na Coreia do século XII. Ele divide seu exíguo espaço com o velho Homem-garça, mendigo aleijado, nobre, que lhe transmitiu valores como a honestidade, o trabalho duro e a coragem. Orelha-de-pau adora observar o trabalho do grande (e perfeccionista!) ceramista Min, e num belo dia decide olhar as magníficas peças um pouco mais de perto. Acaba quebrando uma caixa de cerâmica de valor inestimável e para pagar esta dívida coloca-se ao serviço de Min, durante nove dias (“levei três dias de trabalho para fazer aquela caixa, portanto me deve nove dias de trabalho. Não dá nem para calcular quanto o meu trabalho vale mais que o seu, mas vamos combinar assim para começar”). Passado este tempo, e cada vez mais apaixonado pelo ofício, Orelha-de-pau pede para ser um aprendiz. O mestre, espantado, diz que o ofício é passado de pai para filho e que o órfão não estaria à altura de seu falecido herdeiro. 

Através de Ajima, esposa de Min, o garoto conhece o carinho e descobre que o filho único do casal morrera de febre muito tempo atrás, aos doze anos (a mesma idade de Orelha-de-pau). Determinado a realizar o desejo de sua vida e a ajudar o mestre a conseguir uma encomenda real (que no fundo era o verdadeiro sonho de Min), Orelha-de-pau empreenderá uma longa viagem à corte, em Songdo, e no caminho enfrentará a dor e o medo. 

Uma obra especialíssima, de uma autora de ascendência coreana que me surpreendeu pelo tamanho de seu conhecimento acerca de cerâmica. No livro são detalhados todos os processos desta arte, desde a extração da argila nas jazidas à beira do rio, a escavação em si, o transporte, a drenagem, a criação do esmalte celadon e a técnica da queima. Sensacional. Depois de ler o livro, certamente dará vontade de sair correndo e se matricular num curso específico ou, ao menos, buscar mais literatura sobre o tema. Nota 10!