Era uma vez uma linda princesa indiana chamada Raga-Si, toda vestida de branco, em neve e algodão. Ela vivia sozinha em seu castelo, trancada dentro de seus medos. Nada acontecia em sua vida. Espiava, de longe, a movimentação da praça, e tudo o que lhe aguardava: os sons, os aromas, cores, sabores, pessoas das mais diversas ascendências. Se ela pudesse ao menos vencer o medo...mas não. 

Havia um marinheiro que se enamorara de Raga-Si, um moço lindo que amava o mar, Inayat-Sol. O maior sonho do rapaz era levar a amada para viver aventuras nos sete mares. Raga-Si, temerosa, rejeitava o amor de Inayat-Sol. Então ele partiu e a princesa passou a sentir-se cada vez mais só. A brancura cedia à escuridão. 

Num belo dia, entretanto, apareceu um cego no castelo. Homem de muitos encantos, ele cantou a beleza do mundo para a princesinha e finalmente conseguiu arrancá-la de sua clausura. Andando de mãos dadas, era o cego quem a guiava pelas estações da vida. Nos frutos, ela viu o outono e o frio no inverno. Viu o calor no verão e as flores na primavera. O cego lhe mostrou o céu, as estrelas, a lua. Todas as tonalidades do azul. Raga-Si perdeu o medo descobrindo as plantas, os bichos, as pedras. Sentiu alegria e dor através dos seres humanos, conheceu a música e as canções que motivavam os trabalhadores em sua dura lida. 

Seguindo uma outra canção, ela finalmente chegou ao mar. Deslumbrada, encontrou Inayat-Sol, que cantava seu amor, como que emergindo das ondas do oceano. Agora ela não temia mais nada e pôde finalmente estender-lhe a mão. Uma adorável lenda indiana recontada aqui pelo grande entusiasta dos contos do mundo José Arrabal e ilustrado por ela, meu ídolo, Cláudia Scatamacchia. Já falei aqui sobre a minha paixão pelos contornos arredondados dos desenhos de Cláudia. Ao ilustrar Raga-Si ela me surpreendeu uma vez mais, criando arabescos em forma de cabelos, olhos longos de gazela, flores felpudas, ornamentos do mais puro dourado. Um livro que faz suspirar.